São Francisco e sua Trajetória

Uma juventude rica

O pai de Francisco de Assis era Pedro de Bernardone, um dos homens mais ricos da cidade. Naquele tempo, importantes e poderosos eram nobres, mas tinha começado a surgir uma classe nova: a dos que não eram nobres mas estavam conseguindo fazer dinheiro. Pedro de Bernardone era um desses. Começou vendendo peças de pano, mas tinha tamanho tino que cresceu depressa. Fazia excursões à França para buscar tecidos mais preciosos. Em uma das vezes, trouxe até uma bonita moça francesa, cujo nome era Joana, que passou a ser sua esposa. Quando o primeiro filho nasceu, Pedro estava viajando. Joana batizou-o com o seu nome. Mas, ao voltar, o pai pôs no seu Joãozinho o apelido de Francisco, ou “francezinho”, não se sabe se por causa da mãe, que falava com ele em francês ou se queria mesmo prestar uma homenagem ao país que o ajudara a enriquecer.

Aquele menino era uma alegria. Cresceu esperto, aprendeu a ler e a escrever com os padres da igreja de São Jorge e logo começou a ajudar o pai em sua loja. Ele era bom para ganhar dinheiro. E para gastar também. Mas Pedro ficava feliz: via que ia ter uma velhice ainda mais rica e importante.

Alegre e rico, Francisco era o rei das festas e das aventuras. E ninguém sonhava como ele. Queria até ser cavaleiro, o que, naquele tempo, era o mesmo que ser nobre. Para isso era preciso ter muito dinheiro para comprar um bom cavalo e armas. Mas quem não era nobre só chegava a cavaleiro se, se distinguisse em combate.

Paixão pela guerra

Aos vinte anos, Francisco entrou pela primeira vez em uma guerra. No início ele pensava que ser um grande cavaleiro nas guerras de seu país era sua grande realização na vida.

Porém, chegou o dia em que ele começou a se sentir diferente. Nesse momento, ele desistiu da guerra e dos negócios de seu pai, não queria mais saber de cavalos e armas e nem de negócios. Assim, Francisco passava seus dias vagando por campos fora da cidade, sem ter um rumo na vida. Ele apenas pressentia que algo de muito importante iria acontecer.

Um certo dia em que estava voltando de um jantar, ele se sentiu paralisado e sentiu a certeza de que ía ficar sabendo o que tinha que fazer. Por enquanto, Francisco só tinha uma certeza: Era Deus que estava mexendo com ele. Ele começou a passar horas e até dias nos buracos que encontrava nas montanhas. Um “espírito” dentro dele o dizia para orar ao Pai dos céus.

Contato com os leprosos

Um dia, Francisco cruzou na rua com um leproso. Mas surpreendentemente, desta vez, ele não sentiu nojo. Ele sentiu compaixão pelos leprosos e passou a querer ajudá-los. Ele passou a cuidar desses doentes, tratando de seus ferimentos, lavando-os, e até morando com eles. Francisco sentia um amor muito grande pelos doentes como nunca havia sentido antes. Só Deus podia ser esse amor.

Ao tentar voltar para o convívio na cidade, Francisco foi recebido com pedras, ninguém mais o queria. Muitos o criticavam, mas Francisco sentia que cuidar dos pobres leprosos era seu dever. Seu coração transbordava de doçura.

Igreja de São Damião

Francisco decidiu reformar a capelinha abandonada em que vivia Jesus, a Igreja de São Damião. E foi lá que ele teve uma visão com a cruz de Cristo, uma mensagem de misericórdia e de fazer a vontade do Pai. Seu grito tinha forma da seguinte oração: “Senhor, iluminai as trevas do meu coração. Dai-me uma fé direita, esperança certa e caridade perfeita, juízo e conhecimento, Senhor, para que faça vosso santo e verdadeiro mandamento!”

Com a ajuda dos pobres e esmolas, a reforma da igreja e de uma casa ao lado foi sendo feita. Neste tempo, Francisco tinha começado a viver e se vestir como um eremita: com uma roupa comprida, um cinturão de couro, sandálias nos pés, e levava nas mãos um bordão de madeira que havia cortado no mato. Ele se sentia cheio de Jesus e orava muito, pedindo luz para saber o que Deus queria dele.

Certo dia, ao ouvir o evangelho, um trecho chamou sua atenção: “Quando vocês forem pelo caminho, não levem bolsa, nem calçado, nem duas túnicas…”

Um apóstolo

Na realidade, Francisco não era bem um eremita, e sim um apóstolo. Ele anunciava que o mundo tinha que mudar porque Jesus já tinha chegado.

Quando as pessoas apareciam querendo segui-lo, Francisco os dizia: “Quem quiser vir comigo, venda tudo o que tem, dê aos pobres e depois me siga.”; “Quem não deixa pai, mãe, irmãos, irmãs, por amor de mim, não é digno de mim.”

E assim, seus seguidores sabiam que teriam que ser como os apóstolos, seguindo e anunciando Jesus sem ter nada próprio, e ser eles mesmos os irmãos uns dos outros. Em alguns meses, já eram doze irmãos. Francisco achou que deviam escrever o que queriam da vida e que tinham que pedir a bênção do Papa, que na época era o Inocêncio III. Então, em 1209, Francisco e seus seguidores foram aprovados e enviados como missionários. Desta forma, eles podiam anunciar Jesus por toda parte. Homens e mulheres ficavam tocados com as palavras de Francisco.

Clara

Perto da catedral aonde Francisco pregava, havia uma menina chamada Clara. Ela era muito rica, e era conhecida por ser santa. Clara transpirava vitalidade, seu rosto refletia o de Jesus como um espelho.

Francisco a convenceu de vender tudo o que tinha para se tornar a primeira de um enorme grupo de mulheres que iria se formar. Foi assim que Clara se tornou mestra e companheira, além de discípula nos seus caminhos de viver.

Identificação com Jesus Cristo

Certo dia, Francisco estava rezando em um lugar chamado Monte Alverne. Neste momento, sua oração foi tão profunda, e ele estava tão unido a Jesus Cristo, que viu de repente, uma enorme luz descendo do céu. Essa luz era Jesus Crucificado, isto é, um anjo de seis asas, pegando fogo. E então, ele recebeu os sinais da paixão de Jesus, ficando com chagas marcadas no peito, nas mãos e nos pés.

Este episódio é considerado um sinal de Deus para nós percebermos o quanto Francisco se identificou com Jesus Cristo.

Todos nós também temos que ser outros Cristos. Não precisamos ter suas feridas, mas sim sua visão das coisas e seu imenso coração. Portanto, a regra era a seguinte: Viver como Jesus Cristo. Para saber o que Deus queria deles, os irmãos ouviam uns aos outros. Assim eles escreviam a “Regra Franciscana”.

Através de suas cartas e pregações, Francisco ensinava a todos a viver o Evangelho como irmãos e irmãs, mesmo aqueles que continuassem em suas casas com suas famílias. O importante era viver Jesus Cristo.

Doença

No fim de 1224, com quarenta e dois anos, Francisco estava muito doente. Sofria de malária, não conseguia comer e, o pior, além de não enxergar quase nada, nem aguentava a luz do sol ou do fogo em seus olhos.

Foi um dos piores tempos de sua vida, apesar do carinho de Clara, das Irmãs e dos frades. Ele estava doente no corpo e na alma. Com um desânimo enorme, ele lembrava que muitas coisas não estavam indo bem no meio da multidão dos seus irmãos e pensava que tinha feito muitas coisas erradas em sua vida.

Última vontade

Poucos dias antes de morrer, a pedido de seus companheiros, Francisco ditou seu Testamento, acertando detalhes em em diálogo com os irmãos, aonde ele lembrava seus primeiros passos e dava recomendações s seus seguidores.

Em seus últimos dias, ele também lembrou com muito carinho de Clara e suas Irmãs, e por isso lhes escreveu uma carta com sua última vontade. Clara acolheu com muita gratidão a carta que dizia o seguinte:
“Eu, Frei Francisco, pequenino, quero seguir a vida e a pobreza do Altíssimo Senhor nosso Jesus Cristo e de sua santíssima Mãe, e nela perseverar até o fim; rogo-vos, senhoras minhas, e vos aconselho a que vivais sempre nessa santíssima vida e pobreza. Guardai-vos bastante de vos afastardes dela de maneira alguma pelo ensinamento de quem quer que seja.”

Irmã Morte

E assim, no fim de sua vida, Francisco deixou os melhores exemplos para seus companheiros. E no dia 3 de outubro de 1226, cantando de alegria, ele recebeu o braço da Irmã Morte e foi se encontrar definitivamente com aquele Jesus que ele tinha tentado seguir até então.

De acordo com seu desejo, Francisco morreu deitado na terra. Foi então que as multidões começaram a chegar e se deram conta de que aquele homem só podia ser extraordinário, pois ele tinha até as chagas de Jesus Cristo crucificado.

Nesse momento, um frade que estava em oração disse ter vito uma procissão caminhando para o céu acompanhados por seu irmão Francisco, que estava muito alegre e bonito, vestido com uma roupa vermelha de diácono da igreja. Então, alguém lhe perguntou:
– Frei, quem é esse aí que vai indo para o céu?
Ele respondeu:
– É São Francisco, claro.
– Mas parece Jesus Cristo. – Questinou a pessoa.
– Claro, é a mesma coisa. – Respondeu o frade.

A canonização:

Menos de dois anos depois de sua morte, o cardeal Hugolino, que era amigo de Francisco, e que nesse tempo era papa, depois de mandar fazer um estudo sobre os milagres de Francisco, foi à Assis para declarar a todos que Francisco era um santo.

Foi feita uma festa para comemorar a canonização de São Francisco. Foi construída uma enorme basílica que seria a igreja de São Francisco.

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